Por Dirley Fernandes
Recentemente, esse devoto esteve em viagem pelo Sul do país e teve a oportunidade de visitar a fazenda onde nascem as cachaças Velho Alambique. É uma área às margens de um portentoso rio, o Taquari, que desce caudaloso a Serra Gaúcha, até se unir ao Jacuí para formar o estuário que os gaúchos chamam de Lago Guaíba. É uma região linda e friíssima, bem próxima ao Vale dos Vinhedos. Ali chegamos em um fim de tarde, em meio a um nevoeiro que dava a tudo um ar de terra encantada, corroborado pela torre da igreja de Santa Tereza, que se ergue ao centro do vale.
Pois é por lá que fermentam, com a lentidão que o frio impõe, a Velho Alambique Blend, que equilibra cachaças armazenadas em angico, grápia e carvalho, e a Velho Alambique Cabreúva, maturada nessa madeira de tons avermelhados.
Além dessas, há ainda as Velho Alambique Prata e Umburana, a premium Cenário e a linha Locomotiva, mas o tema desse post são as duas assinaladas.
Na volta da viagem, esse editor foi a São Paulo para participar, como jurado, do Concurso Vinhos e Destilados do Brasil (leia sobre o concurso aqui). Lá estavam essas duas cachaças para nossa alegria.
A Velho Alambique Blend conquistou um merecido duplo ouro. Já a Velho Alambique Cabreúva também teve sua deferência – levou uma medalha de prata para Santa Tereza -, mas ficou aquém de seu merecimento. É, no entanto, compreensível. Seus sabores são mais escarpados. Todavia, para o devoto mais experimentado, ela é, com sua pletora de sabores e sensações, uma festa na floresta.
Antes de ir às cachaças propriamente, é preciso dizer que os termos cabreúva e bálsamo não designam a mesma madeira, apesar de constantemente se confundirem e eventualmente funcionarem como sinônimos. Em termos botânicos, até onde pude entender, são duas espécies (Miroxylon balsamun e Myrocarpus frondosus) da mesma família (Fabaceae).
Em termos cachacísticos, é mais fácil: diferem na cor, mas se aproximam, relativamente, no efeito que exercem sobre a cachaça. O bálsamo, mais comum na porção norte do continente, dá tom dourado à bebida. A cabreúva, mais meridional, exala uma cor vermelho-clara. Ambas têm alguma adstringência, mas o bálsamo produz aromas mais herbais, enquanto a cabreúva puxa mais para as especiarias.
Enfim, ambas são lindas, cada uma a seu jeito.
Velho Alambique Cabreúva
Com seu belíssimo tom rubro e bonita garrafa, a Cabreúva produzida em Santa Tereza já agrada no visual. Suas lágrimas descem espessas e lentas, mostrando o bom corpo que será confirmado mais adiante dessa cachaça de teor alcoólico contido (40%) e maturação rápida (1 ano).
O aroma é fresco, lembrando azeitonas e especiarias. O paladar é complexo. Para bom proveito, mais do que na maioria das cachaças, é preciso espalhar a bebida pela boca. Há doce, amargo e, no final relativamente curto, uma picância bem agradável.
É cachaça de personalidade, para bebedores experimentados, e revela o capricho no relativamente pequeno, porém bem equipado e muito bem trabalhado alambique de Ivandro Remus, que tem a ajuda da esposa Viviane – com a mão na massa – e do apaixonado alambiqueiro Paulinho.
Velho Alambique Blend
A Blend é cachaça mais suave, com corpo médio e teor alcoólico bem moderado (39%). Seus aromas e sabores são sutis e se apresentam em camadas. A composição do blend reúne carvalho americano, angico e grápia, tudo tendendo ao aveludado.
Com dois anos de envelhecimento, a bebida desce sem arestas. No nariz, toques contidos de toffee e doce de coco; na boca, uma leveza adocicada, sem percepção de álcool, com toque amadeirados expressivos, mas não típicos dos ‘carvalhões’ que abundam o mercado. O final é longo e agradabilíssimo, com recendências de picante.
Ao cabo, duas cachaças que revelam a busca bem sucedida de seus produtores em apresentar produtos qualificados e invulgares ao mercado. Diga-se passagem, a produção da Velho Alambique, que tem canavial próprio, é certificada como orgânica.
A Velho Alambique Cabreúva está saindo por R$ 69 na Cachaçaria Nacional, enquanto a Velho Alambique Blend é encontrada com ótimo preço (R$ 50,50) no Rei da Cachaça.
Conheça mais cachaças na seção Cachaças de A a Z, a mais visitada do Devotos. É só clicar.
O resultado completo do Concurso Vinhos e Destilados do Brasil está nesse link.
Ótimas cachaças! Estive com a Vivi e o Ivandro no final do ano passado, uma receptividade maravilhosa, e um calor escaldante!